Clássico de Martins Pena, intitulado “O Judas em Sábado de Aleluia”, foi o texto escolhido pela Escola de Artes Cênicas para a montagem do primeiro semestre de 2013 com seus alunos. O espetáculo, que estreou dia 19 de janeiro, estará em cartaz até 17 de fevereiro no Teatro Commune, situado à Avenida da Consolação, 1.218, em São Paulo, SP
A atriz Aline Nêmessis interpreta a personagem Maricota |
Na Guarda Nacional, em 1844, retratada por Martins Pena, quem não pagava para a “música” era chamado para o serviço! Sim, o pagamento, em dia, da propina estabelecida, livrava alguns soldados do trabalho e até das paradas. Com toques de ironia, humor e a criação de cenas inimagináveis – que promovem o corre corre, a confusão e a graça –, o autor retrata hábitos e costumes da sociedade carioca do século XIX, talvez sem prever que seu texto atravessaria os séculos muito bem atualizado. “Essa peça é um exercício teatral contagiante para atores iniciantes e já formados. A riqueza de detalhes das cenas e os tipos tão bem traçados para os personagens dão ao ator possibilidades infinitas de criação e interpretação. É o que faz com que uma montagem de ‘O Judas em Sábado de Aleluia’ tenha sempre uma proposta diferente das que já subiram ao palco, sendo capaz de provocar risos e reflexão a cada temporada. Excelente escolha de montagem feita pelo corpo docente da EAC”, salienta a encenadora do espetáculo, Salete Fraccaroli.
Criador do Teatro Nacional, Pena é considerado um dos maiores dramaturgos brasileiros. Seus textos tratam basicamente de um tema comum, utilizado por consagrados autores românticos: moças iludidas pela ideia de que o casamento pode mudar suas vidas para melhor. A diferença entre elas é que umas são mais espertas, como Maricota, e partem em busca da realização de seus sonhos; outras são mais sonsas, como a apaixonada Chiquinha, dotadas de amores platônicos ou à espera de que os “príncipes encantados” baterão às suas portas. “O comportamento frenético de Chiquinha para arrumar um namorado e a visão ingênua, quase boba, de Maricota, que passivamente aguarda o bem amado, serve como pano de fundo e conduz essa trama de amor x traição; inocência x esperteza; honestidade x desonestidade; bem x mal. A figura do Judas, que aguarda sua malhação no Sábado de Aleluia, representa ainda uma sociedade que se trai e se violenta com o famoso ‘jeitinho brasileiro’”, observa a coordenadora da escola e do espetáculo, Maria Eugênia De Domênico.
O elenco e a preparação dos atores
A atriz Priscila Jerônimo interpreta a personagem Chiquinha |
O produtor cultural e diretor da EAC, Marcos Thadeus, lembra que alguns temas são marcas registradas dos textos de Pena, como problemas familiares, casamentos, heranças, dotes, dívidas, corrupção, injustiças, festas populares etc. Sua galeria de personagens, entre outros tipos, apresenta funcionários públicos, padres, meirinhos, juízes, malandros, namoradeiras, sonsas, guardas, mexeriqueiros, viúvas. “A linguagem e as situações criadas pelo autor fazem com que os espectadores identifiquem histórias cotidianas similares, sendo que o riso, por incrível que pareça, nasce da pena, do ridículo, do extravagante, do absurdo”, ressalta.
Maricota, vivida pela atriz Aline Nemêssys é a filha esperta e namoradeira do enérgico Cabo de Esquadra da Guarda Nacional, José Pimenta, papel do ator Wagner Sturion. Chiquinha, interpretada por Priscila Jerônimo, é a filha sonsa, eternamente apaixonada. O irmão Lulu, de 10 anos de idade, só está interessado na confecção do Judas e em atormentar as duas irmãs com o Sábado de Aleluia. O personagem é vivido por Paulo Bergsten Mendes, que atua ainda como o severo Capitão da Guarda Nacional, denominado Ambrósio, também de olho na bela Maricota. Marcos Thadeus é Faustino, empregado público, apaixonado por Maricota e por quem Chiquinha deposita grande apreço, mas não tem amor correspondido.
Roberto Campos interpreta mais um dos pretendentes de Maricota, um namorador seresteiro, que encanta a moça em sua janela; e também faz o papel de um irritante menino malhador do Judas. Albino Ventura é Antonio Domingos, um malandro negociante, responsável por um plano ilícito, que, se descoberto, pode comprometer a imagem e a reputação do alto escalão da Guarda Nacional... “Entre traídos e traidores, dessa vez o beijo na face talvez não seja dado em um homem tão puro de coração... É uma peça em um ato e doze cenas empolgantes, capaz de prender a atenção do público do começo ao fim, deixando um gosto de quero mais”, conta a preparadora de Elenco, Eliane Rossetto.
O ator Paulo Roberto Campos interpreta um seresteiro |
Segundo ela, este trabalho proporcionou a todos viajar com os vários tipos apresentados e descobrir as fragilidades e fortalezas humanas. “A encenadora Salete e eu trabalhamos com atores já formados, que vieram para a Escola de Artes Cênicas a fim de se reciclarem, e com alunos que passaram a conhecer técnicas teatrais no decorrer do curso. As oficinas preparatórias cuidaram da interpretação, da compreensão do texto, do entendimento e do desenvolvimento de cada um dos personagens. Mas o nosso principal foco foi o comprometimento, a união do elenco e a reflexão sobre o trabalho contínuo de cada ator em torno de sua disciplina e disposição para aprender sempre mais, vencer seus obstáculos e se doar para os palcos”, conclui.
Serviço
Teatro Commune
Avenida da Consolação, 1.218, em São Paulo, SP
Ingressos:
R$ 15,00 (promocional para todos)
Temporada:
19, 20, 26 e 27 de janeiro
02,03,16 e 17 de fevereiro
Sábado: 21 h
Domingo: 20 h
Elenco:
ALBINO VENTURA
MARCOS THADEUS
PAULO BERGSTEN
PRISCILA JERÔNIMO
WAGNER STURION
Ficha Técnica
Preparação de Elenco: ELIANE ROSSETTO; Pesquisa Histórica: ANTONIO ROGÉRIO TOSCANO; Encenação: SALETE FRACAROLI; Coordenação Montagem: MARIA EUGÊNIA DE DOMÊNICO; Cenários e Figurinos: MARIA EUGÊNCIA DE DOMÊNICO e MARCOS THADEUS; Costureira: ANA LÚCIA GOMES; Iluminação: ANDRE LEMES; Programação Visual: HELOÍSA ANDERSEN; Produção Executiva: MARCOS THADEUS; Realização: EAC – Escola de Artes Cênicas
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